7 de dezembro de 2017

Ninguém Nasce Herói

Nome: Ninguém Nasce Herói
Autor: Eric Novello
Editora: Seguinte
Páginas: 384


O Brasil encontra-se em um regime autoritário e é governado pelo Escolhido, um fundamentalista religioso. Muitos dos direitos adquiridos pelas minorias não existe mais, e o mero ato de distribuir um livro que contrarie as crenças do governo já é considerado um ato de rebeldia. Agora, até a própria população, reunida em milícias urbanas apelidadas de Guarda Branca, pode perseguir aqueles que representam a imoralidade, agindo de forma legal e sendo incentivada pelo governo.

Chuvisco é um jovem, recém-formado, que trabalha como tradutor e, quando possível, tenta se rebelar do modo como consegue - e é assim que acaba distribuindo livros que foram proibidos (por mais que o governo diga que agora são aceitos). E, apesar de não gostar de dar trabalho para os outros, o garoto sabe que sempre pode contar com seus melhores amigos - como também sabe que faria qualquer coisa por eles.

Depois de uma noite divertida com os amigos, Chuvisco encontra um garoto sendo espancado em um ritual da Guarda Branca. No meio de uma catarse criativa, encontra forças para lutar contra os integrantes da Guarda e salvar o garoto - Júnior - e a partir de então começa a perceber que terá que fazer mais do que apenas distribuir livros para conseguir mudar seu futuro e o futuro do país.



Eric Novello participou do Encontro de Blogueiros que aconteceu na última Bienal de São Paulo, em 2016, para contar um pouquinho sobre o livro que estava escrevendo. Lembro que na época fiquei curiosa: eu sempre gostei de distopias e fiquei realmente feliz em saber que Novello estava escrevendo uma que se passa não só no Brasil, mas em São Paulo, que é a cidade em que eu moro.

Apesar de não vivermos em um governo tão autoritário como o do livro, vemos algumas de suas características presentes também nos dias de hoje. É o caso, por exemplo, de casos de agressões justificadas por puro preconceito que já viraram notícias no nosso país (e até na própria Avenida Paulista, que também é cenário da obra); e até podemos citar a grande polarização política em que vivemos hoje em dia (para muita gente, não existe mais meio termo: ou você é a favor de determinado ponto de vista, ou você é contra).

Também achei interessante no livro o que Chuvisco chama de catarse criativa. O personagem, desde criança, tem dificuldade de diferenciar a realidade da imaginação: ele começa a ver coisas que não estão realmente lá, que são puro resultado de sua imaginação. Mas isso acaba ajudando Chuvisco em momentos em que se sente vulnerável e precisa encontrar forças para enfrentar alguma situação. Apesar de eu ter ficado um pouco confusa com essas cenas, de início, depois me acostumei e adorei o modo como se encaixou tão bem na narrativa!

Com a narrativa variando entre a narrativa em primeira pessoa por Chuvisco, transcrição de vídeos de seu antigo canal do Youtube - o Tempestade Criativa -, e e-mails para o seu ex-psicanalista, o livro é ótimo! Aquela curiosidade que foi plantada na minha cabeça a primeira vez que ouvi falar no livro ficou satisfeita! A história demora um pouco para se desenvolver, e depois passamos rapidamente pelos acontecimentos finais (como deve ter acontecido na cabeça de Chuvisco). Mesmo assim, a leitura é super envolvente - queremos soltar o livro só depois de virar a última página.