3 de agosto de 2010

A luta com palavras


Existem diferentes maneiras de tentar mudar o mundo. Apesar de a luta com palavras ser mais difícil, ela é mais pacífica e efetiva do que outras.

A dificuldade existe por vários motivos. Primeiro, o locutor precisa saber quem é seu receptor e em qual situação está, e adequar seu vocabulário pensando nisso. Um gerente de uma empresa, por exemplo, não faria o mesmo discurso para seus amigos em um bar e para seus chefes em uma reunião. Outra dificuldade é a ambiguidade decorrente da possível polissemia das palavras escolhidas pelo locutor. O receptor pode interpretar de diferentes maneiras a mesma frase e, nem sempre, entender exatamente aquilo que o emissor se propôs a dizer. Por fim, aquele que ouve a mensagem pode ter convicções diferentes e tão fortes que se torna mais resistente à ideia transmitida.

Depois de vencer essas dificuldades, a linguagem verbal mostra sua maior eficiência. Ocorre o contrário da imposição de uma vontade através da força física, pela qual não há o convencimento do outro, fazendo com que este não acredite e, por muitas vezes, não concorde com o que está sendo proposto. Depois de convencidas através da linguagem verbal, muitas pessoas mudam de idéia – e passam a concordar com aquilo que está sendo defendido. A ditadura militar que ocorreu no Brasil é um exemplo, já que tentou se impor através da força e a população não se adequou a ela, buscando a volta da democracia.

Portanto, percebe-se que, apesar da dificuldade, a luta com palavras é mais efetiva. Mesmo sendo mais demorada, com certeza exerce maior influência sobre as pessoas, convencendo-as de que o motivo pelo qual estão lutando realmente é aquilo que acreditam.

(Fuvest 1997)