Nome: Budapeste
Autor: Chico Buarque
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 176
Em 2014, fui para Budapeste. Me encantei pela cidade e logo fiquei com vontade de ler o livro de mesmo nome, de Chico Buarque. Demorei, mas logo nas primeiras páginas me identifiquei com o protagonista. Assim como José Costa, sempre levo um souvenir volátil de cada lugar que eu visito: uma frase, uma palavra, que logo cai no esquecimento. Assim como ele, também nunca sonhei em aprender húngaro, mas confesso que a curiosidade sobre o idioma me acompanhou durante a viagem e, de novo como ele, não consegui identificar onde cada palavra começa e até onde ia. Realmente, dá para entender o motivo de húngaro ser a única língua do mundo que o diabo respeita.
O livro conta a história de José Costa, um escritor anônimo. Ele é explorado por seu sócio Álvaro, que abusa de seu talento, e escreve artigos, discursos e livros para todo tipo de gente: de um anônimo querendo escrever uma autobiografia, passando pelo presidente de uma grande associação e até um ministro do Supremo Tribunal Federal. Ele sente um orgulho interior de escrever todos esses textos, mas nunca teve vontade de se tornar conhecido ou receber os devidos créditos pelo seu trabalho. Ele também é casado com Wanda, com quem um filho - que, pela narrativa, nunca se apegou muito.
Por acaso, após uma crise de criatividade depois de uma de suas autobiografias se tornar um best seller, José vai parar em Budapeste, guiado por sua curiosidade quanto à língua. Lá, conhece Kriska, uma nativa que está disposta a ensinar os segredos desse idioma tão complexo. Como tempo, vai pegando as peculiaridades da língua e esquecendo da vida no Brasil.
Eu gostei muito do livro. Uma coisa que achei interessante foi ver o modo como Costa levava duas vidas - a sua fama oculta, sua vida no Rio de Janeiro e a outra em Budapeste. Também gostei de como podemos interpretar o livro como a autobiografia do próprio Zsoze Kósta (inclusive, o nome dele está no verso do livro, como se ele tivesse o escrito, e não Chico Buarque).
A escrita de Chico Buarque me surpreendeu. Eu já devia imaginar que escrevia bem - afinal, sou fã de suas músicas -, mas adentrei no livro e na linguagem dele de modo que não esperava. Todos os parágrafos são compridos - e aquele que estiver lendo de modo desatento pode se perder no meio deles -, mas a leitura é gostosa e rápida, de modo que em pouco tempo já nos sentimos envolvidos na trama.
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