Espionagem Canina
O meu sonho sempre foi ganhar um cachorro. Não importava a raça, cor, o tamanho... O que eu queria mesmo era ter um cãozinho. Meus pais não compravam com a desculpa de que tinham que achar um lugar bom, onde os animais tivessem pedigree, mas nem se preocupavam em procurar.
Um dia, quando estava saindo da escola, um homem bem alto, com nariz pontudo e cabelos louros veio falar. Assustei-me com alguém assim vir atrás de mim, mas virei, olhei em seus olhos escuros. O rapaz abriu um sorriso e começou:
“Olá, linda garota! Eu sou Jaime. Qual seu nome?”
“Me chamo Juliana. O que você quer?”
“Me chamo Juliana. O que você quer?”
Jaime pareceu estranhar a pergunta, mas respondeu:
“Eu vendo cachorros. Eles vêm treinados, têm pedigree. E o melhor de tudo: a raça que você quiser!”
“Eu vendo cachorros. Eles vêm treinados, têm pedigree. E o melhor de tudo: a raça que você quiser!”
Quando lhe disse que meu sonho era ter um bichinho de estimação, ele me deu seu cartão e, sorrindo, agradeci.
Nem cheguei em casa direito e já fui falando à minha mãe que tinha achado o lugar perfeito e que poderíamos buscar nosso cãozinho naquele dia mesmo. Como eu lhe estava pedindo a mesma coisa fazia anos e tinha achado um lugar para comprar, mamãe concordou comigo e já saímos a caminho de colocar mais um membro na nossa família.
Aquele lugar era o paraíso. Tinha todo tipo de cão, das mais variadas raças e cores. Fiquei em dúvida. Como iria eu escolher um só? Foi então que vi Jaime e pedi para que me ajudasse. Perguntou se eu queria um esperto. Respondi que sim. Então me levou a uma raça chamada Border Collie, que é a mais esperta que existe. Tinha um macho e uma fêmea. Peguei o primeiro e fui testá-lo, para ver se vinha treinado mesmo. Obedeceu-me em todos os comandos, certinho. Sem erros.
“Filha, você não quer pegar um cachorro para treiná-lo em casa?” Meus pais não paravam de perguntar.
“Não” Eu dizia “Treinado é melhor!”
“Não” Eu dizia “Treinado é melhor!”
Até hoje eu me arrependo de ter dito isso, mas assim é a vida. Um dia você afirma algo com tal precisão que até parece realidade. No outro percebe que não é nada assim.
Então levamos Satã, meu novo melhor amigo, para casa. E passou-se uma semana. Duas. Três... Cada dia que passava eu me apaixonava mais e mais por aquela criaturinha. Foi na quarta semana que tudo começou, eu me lembro direitinho.
Satã sumia. Literalmente sumia. Eu voltava da escola e ficava procurando meu cachorro pela casa inteira, mas nunca o achava, o que era totalmente estranho, já que Border Collie não é uma raça pequena. Achando tudo muito suspeito, resolvi segui-lo para ver onde ele passava suas tardes.
Faltei na escola só para observar o bicho. Nesse dia, ele não sumiu. Me fez companhia até a hora de dormir. Acho que não queria que soubesse. Mas, é claro, continuei curiosa. E essa curiosidade era tanta que eu comprei uma mini-câmera, daquelas de espião, para ver o que Satã aprontava.
Cheguei da escola e, como de costume, fui procurar o meu amado cãozinho. Como não o achei, para variar, liguei a televisão e conectei-a à câmera. O que vi aquele dia está gravado na memória até hoje. Jaime olhava atentamente para Satã, que parecia dizer-lhe algo. E, assim que entedia, anotava tudo num bloquinho. Depois de um tempo, entrava outro homem na sala e os dois comentavam o que estava escrito, e ouvindo tudo, para minha surpresa, o que tinha no bloquinho era a rotina da minha família.
Avisei minha mãe, ela insistiu que eu estava inventando. Contei a meu pai, que falou que não se brinca com coisa séria. Para provar-lhes que eu não estava louca, deixei a fita para gravar e mostrar o que Satã realmente fazia. Dessa vez, os ladrões marcaram que assaltariam minha casa às dez horas da noite do dia seguinte. Meus pais, ao ver a fita, impressionaram-se e acabaram mandando-a para a polícia.
No dia seguinte, estavam todos em casa, inclusive os policiais. Deu dez horas. Nada aconteceu. Onze horas. Nada. Todos me acharam uma piadista, foram embora. Meus pais me bronquearam e foram dormir. Fui para meu quarto e dormi também.
De manhã, ao acordar, não vi nada em meu quarto. Ele estava vazio. Passei pela sala, sem nada, nem um lustre. Dei um grito. Meus pais acordaram e saíram correndo pela casa. Só tinham sobrado as camas e uma televisão com um vídeo. Fui assisti-lo.
Na tela, Jaime apareceu, e ele dizia: “Já sabia que você estava me vendo. Planejei tudo, cada detalhe. Agora seu Satã voltou ao lugar dele e está esperando sua nova vítima”.
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