14 de junho de 2014

Cartas para você

Nome: Cartas para você
Autora: Duda Razzera
Editora: Talentos da Literatura Brasileira
Páginas: 215

Perder alguém não é fácil. O processo de luto é comprido: tem a negação, a raiva, a barganha, a depressão e a aceitação. Geórgia Castro perdeu o pai, que era seu melhor amigo e seu mentor, e já passou por todas essas etapas... Só a aceitação que se recusa a aparecer.

Para fazer com que ela venha logo, Georgia, aceitando uma sugestão de sua psicóloga, resolve escrever cartas para a Aceitação. Somente quando esta chegasse ela poderia viver com o fato de que seu pai nunca irá voltar. E não só isso. A vida dela nunca foi fácil. A morte de seu pai parece fazer com que tudo desmorone mais uma vez, mas ela e sua família devem se unir para conseguir superar essa fase.

Com referências à filmes, citações e séries (seu ex-namorado, por exemplo, é chamado de Voldemort), as cartas mostram a evolução da protagonista ao longo do tempo, mostrando seu dia-a-dia, suas emoções, seus conflitos internos e como é possível continuar a viver mesmo sem seu melhor amigo ao seu lado.


Para mostrar um pouquinho melhor a essência do livro, resolvi separar alguns quotes que achei interessantes:
"Será que é algo que as pessoas em luto fazem? Agir de um jeito completamente diferente do que você agiria em condições normais? Fugir da realidade? Talvez."
"Meu pai sempre roube rir da própria desgraça e, em sua memória, devemos fazer isso também"
"Meu pai ainda morre todos os dias para mim. Em qualquer lugar e a qualquer hora eu sinto uma enorme vontade de chorar. Sou praticamente uma bomba-relógio"
"Minha cama é meu refúgio. Quando eu durmo me transporto para um mundo melhor, um mundo em que eu e meu pai estamos juntos. Sonho com ele todo dia. Sonho que estamos em casa tomando café, ou então ele está andando comigo na rua ou fazendo um cruzeiro... Mas sempre um pouco antes de acordar do sonho, descubro que ele está para morrer."
"Todo dia acordo com aquele desânimo no corpo e tento mentalizar: "Hoje vai ser um dia bom. Eu não vou surtar. Vou ter coisas para fazer no trabalho. Vou sobreviver mais um dia". Eu me sinto como uma alcoólatra: um dia de casa vez." 

As palavras de Duda conseguem nos passar como é difícil lidar com a perda de alguém que nos é importante. Ela mostra que mesmo com o passar do tempo, a dor não vai embora: você deve aprender a lidar com ela. Eu tenho certeza que o livro vai ajudar muita gente que está passando por essa situação, mostrando a todos que eles não estão sozinhos - e que não é necessário se mostrar o tempo todo forte, mesmo estando em cacos por dentro. Ao longo da leitura, conseguimos sentir a emoção da personagem, sentir seus altos e baixos, e ela consegue transparecer claramente a dor que está sentindo, sem mesmo entendê-la.

Eu gostei bastante do livro. A única coisa que senti falta foi a data em cada carta. O livro se passa dentro de um ano, mas eu não tinha muita ideia quanto tempo havia passado entre uma carta e outra. Mesmo assim, deu para perceber uma evolução da personagem - que de início não queria nem sair de casa, e aos poucos começou a trabalhar, sair com os amigos e ter alguns bons momentos, mesmo com um grande buraco em seu coração. Recomendo a todos, principalmente àqueles que estão passando por esse momento de dificuldade. Com certeza o livro será um ótimo ombro amigo para ficar a seu lado nessa fase tão difícil que é perder alguém.