19 de julho de 2016

Persépolis

Nome: Persépolis (Completo)
Autora: Marjane Satrapi
Editora: Quadrinhos na Cia
Páginas: 352


Persépolis é uma autobiografia em quadrinhos de Marjane Satrapi. Ao mesmo tempo em que vemos a história da autora, conhecemos também a história do Irã. Desde o início, há uma preocupação para que o leitor entenda qual é o contexto que estamos envolvidos: a região da Pérsia, onde hoje se localiza o Irã, sempre foi alvo de conflitos.

No início do livro, encontramos um país governado por um xá que foi lá colocado pelos imperialistas ocidentais, somente para se utilizarem das inúmeras reservas de petróleo do país. Os cidadãos não estavam satisfeitos com essa situação e se mobilizavam para que fosse implantada uma democracia.

Os pais de Marji sempre iam às ruas para garantir que a filha tivesse um futuro melhor. Eles a educaram para que fosse uma mulher politizada, livre e independente, que pudesse alcançar todo o potencial que sempre demonstrou ter.

Assim que o regime do xá foi derrubado, a população elegeu um governo islâmico. Isso deixou os revolucionários ainda mais inconformados, afinal, não foi para isso que se mobilizaram. Para piorar a situação, o Iraque se sentiu ameaçado pelo governo iraniano e  decidiu declarar uma guerra contra o país.

Marji sentiu a mudança na pele. Desde criança, estudava em um liceu francês, laico e que permitia a interação entre homens e mulheres. Com o novo regime, ela passou a estudar em um colégio religioso, apenas para meninas e, ainda, foi obrigada a colocar um véu sempre que saísse de casa (afinal, os cabelos de uma mulher atraíam muito a atenção dos homens).

A garota não conseguia se conformar com os novos padrões da sociedade, e também não controlava a boca para falar o que realmente acreditava. Com medo que o comportamento da filha pudesse a prejudicar, quando a garota completou 14, eles a enviaram para terminar seus estudos na Europa, onde ela poderia ser realmente livre.


Eu já tinha bastante curiosidade para assistir ao filme ou ler os quadrinhos,  mas nunca tive a oportunidade. Em junho, Persépolis foi o livro indicado pelo Our Shared Shelf, clube de leitura feminista da atriz Emma Watson (que, para quem não sabe, interpretou a Hermione). A minha curiosidade ficou ainda maior, e, resolvi, finalmente, ler!

Os quadrinhos mostram uma grande discrepância entre o Irã e o ocidente. Marji, que viveu durante a guerra Irã-Iraque e durante a revolução islâmica, conseguiu ver bem essa diferença assim que colocou os pés na Europa: as preocupações deles eram bem mais superficiais do que as que ela teve que aprender a viver.

Também é claro o aspecto feminista da história. Depois da revolução, as iranianas foram obrigadas a usar véu e roupas que cobrissem o seu corpo, já que qualquer coisa poderia distrair os homens. Aquelas mais liberais, se revoltavam de maneira sutil, usando maquiagem, deixando o pulso à mostra, com meias coloridas. Qualquer coisinha diferente já era motivo de serem enviadas ao Comitê, onde poderiam ser condenadas à chibatadas, casamentos forçados ou à morte.

Marji não se conforma com essa condição, e, sempre que possível, coloca sua opinião para que todos ouçam. E, sem dúvidas, a educação laica que teve e a família liberal que a criou contribuiu para que ela não fosse doutrinada pelo islamismo, e não acreditasse em todas as mentiras soltadas para controlar a população.

É impressionante pensar que os quadrinhos são uma autobiografia da autora. Realmente, é um choque de realidade e muitas vezes mostra que as nossas preocupações não são tão complicadas quanto parecem, frente ao que muitas pessoas passam.

Para você, que ficou curioso, confira o trailer do filme, ganhador do prêmio do júri em Cannes: