10 de setembro de 2010

De são e de louco todo mundo tem um pouco

Imagem retirada de GettyImages


Quando fui ao México, levei meu livro de contos do Machado de Assis para ler durante o voo. Comecei a ler “O alienista”, um dos contos mais retratados do autor – existe até uma edição em quadrinhos, para aqueles que não gostam de ler. O conto se trata de um cientista, Simão Bacamarte, que resolve estudar a loucura. Para isso, abre uma casa para loucos, a Casa Verde, onde abrigaria os que julgasse loucos e os estudaria. De início, todos da cidade ficaram entusiasmados com a ideia, mas depois o cientista começou a prender pessoas que pareciam sãs e, enfim, pessoas que não seriam consideradas loucas por quase ninguém. Vou contar o final do conto, então, caso alguém não queira saber, por favor, pule algumas linhas! A cidade se revoltou. Simão Bacamarte percebeu que não estava conseguindo avançar em seu estudo – para ele, todos pareciam loucos, a cada dia encontrava um novo tipo de louco. Depois percebeu que deveria estudar as pessoas sãs – e liberou todos os internados. Por fim, percebeu que, na verdade, deveria estudar a si próprio. E, com isso, internou-se – sozinho – na Casa Verde. Após ler esse conto, conclui que, na verdade Simão Bacamarte é que era verdadeiro louco. Sua obsessão em seus estudos se transformou em loucura.

Depois de terminar o conto, ainda no avião, resolvi ver um filme que eu queria assistir há um tempo: “A ilha do medo”, com Leonardo DiCaprio. Fiquei impressionada com a tamanha coincidência que havia ocorrido. Consegui ver um paralelo entre o texto que eu havia acabado de ler e o filme a que eu estava assistindo. Para aqueles que não viram, o filme se trata de um detetive que vai a uma ilha, que funciona como hospício, investigar o desaparecimento de uma de suas detentas. Ao longo da história, o protagonista percebe que, se continuar lá se tornará um dos loucos que estão internados. Mesmo assim, ele continua investigando o desaparecimento da mulher – que havia afogado os três filhos – e, ao mesmo tempo, tenta fugir dos funcionários da ilha que querem prendê-lo. O filme nos segura até o final, já que queremos descobrir como o detetive escapará da ilha e denunciará o que realmente acontece lá. Mas, ao contrário do que esperamos, a mulher que desapareceu, na verdade, é a ex-mulher de DiCaprio, que ele mesmo matou após ela matar seus filhos da maneira já mencionada e, depois disso, ele realmente ficou louco. É um final inesperado e, ao mesmo tempo, satisfatório.

Bom, acho que era basicamente isso que eu queria falar. Para mim foi bem divertido ler o conto e assistir ao filme no mesmo dia. Apesar de a comparação entre os dois não estar devidamente explícita aqui – já faz um tempo que eu estava pensando em escrever isso e, depois desse tempo algumas coisas realmente me fugiram à mente – vale a pena fazer essa relação.